Vivemos em meio a uma tempestade de oportunidades e desafios advindos da atual conjuntura que nos impõe as profundas transformações alavancadas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) facilitando a partilha do conhecimento (veja Cristine Martins ou Neferson Barbosa).
Partindo da frase de autoria desconhecida (comumente atribuída a Carl Jung): “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja só uma outra alma humana” é evidente que tecnologias, frameworks e boas práticas podem impulsionar soluções que promovam o acesso a uma educação mais democrática e equitativa.
Ao mesmo tempo, cada indivíduo em suas diversas singularidades pode contribuir com Práticas Educacionais Abertas (PEAs): uma das importantes dimensões da Educação Aberta – o foco desse texto.

Muito embora a realidade brasileira ainda apresente desafios em torno de questões basilares – como conectividade (CGI) e a dificuldade na popularização do uso de microcomputadores em domicílios (Observatório das Tecnologias Digitais) – podemos considerar que seguimos avançando rumo à universalização da conexão a internet no Brasil. Embora o acesso às TICs – em especial nos estados das regiões norte e nordeste do Brasil – ainda seja uma importante questão, superar barreiras culturais para promover a adoção das Práticas Educacionais Abertas é tão importante quanto ampliar o uso de recursos tecnológicos.

Apesar das inúmeras barreiras no cenário brasileiro, dispomos de uma gama de meios de informação/comunicação que podem fortalecer o diálogo e a cultura para difusão de Práticas Educacionais Abertas. Da mesma forma, também contamos com diversas tecnologias digitais que podem facilitar desenvolvimento e uso de conteúdos em Recursos Educacionais Abertos (REAs). Esses, por sua vez, permitem que realidades específicas adaptem o conhecimento gerado a partir de um contexto mais amplo (e vice-versa), retroalimentando uma cadeia na qual os recursos podem ser retidos, reusados, revistos, remixados e redistribuídos (sustentados por licenças abertas que asseguram os direitos, mas que de tal forma incentivam liberdades). Desta forma, podemos avaliar que Educação Aberta é, antes de tudo, a junção de esforços, pessoas, recursos e práticas em busca de ampliar a inclusão, a construção, a reconstrução e disseminação do conhecimento.
Fortalecer Práticas de Educação Aberta (PEA), disseminá-las amplamente como um novo modo de pensar e agir, facilitar e promover a adoção, é fundamental para que cada um possa fazer a diferença em seu espectro de atuação, para que indivíduos e instituições possam ser agentes de transformação na promoção da Educação Aberta e no estímulo ao bem comum, conforme vídeo abaixo:
Cabe lembrar que não estamos falando exclusivamente de normas, políticas, arcabouço tecnológico ou legal, mas de condutas individuais que corroboram com o fortalecimento dessa mentalidade e da cultura de Práticas de Educacionais Abertas. Embora tenhamos um contexto altamente complexo, podemos encontrar em cada ser humano o potencial e as capacidades intrínsecas para tornar as Práticas Educacionais Abertas cada vez mais comuns em nosso dia a dia. Não se trata de um sonho ingênuo descolado de uma dura realidade, mas sim de uma força pujante que cresce a medida que professores, gestores, alunos, instituições, governo e sociedade adotam medidas, sejam simples ou sofisticadas, em seus cotidianos.
A construção de uma forte cultura de Práticas Educacionais Abertas pode ser criada e disseminada no Brasil, conforme exemplos abaixo (que poderiam ser fomentados nas instituições, que deveriam ser impulsionados por construção de políticas públicas, mas que sobretudo devem inspirar e provocar pessoas – sejam docentes, discentes, gestores) na adoção das PEAs:
- Compartilhar ideias e incentivar sugestões de propostas de cursos/palestras/planos de aula: use o Mastodon, por exemplo;
- Criar conteúdos usando ambientes que permitem construção colaborativa, como a Wikiversidade, divulgar e incentivar o seu uso;
- Criar e disponibilizar conteúdos em formatos abertos, conforme dicas no Guia sobre REA da Fiocruz;
- Ir além das fronteiras de sala de aula/ambientes virtuais de aprendizagens e publicar conteúdos, aulas, slides, vídeos, etc, em mídias sociais;
- Usar licenças abertas, como Creative Commons para assegurar direitos e liberdades;
- Provocar docentes, discentes, gestores, no uso de recursos disponíveis para criarem conteúdos, produzirem o conhecimento de forma compartilhada e descentralizada, promovendo uma troca multilateral. Como fazemos aqui: leia, escreva, revise o seu texto no Pirotecnia e saiba que a sua parcela de contribuição é valiosa;
- Promover a avaliação por pares e a revisão em comunidades de práticas.
É importante lembrar que ainda há muito o que rediscutir, reaprender, explorar e construir em termos de Práticas Educacionais Abertas e que a lista acima representa uma pequena parcela de possíveis (e infinitas) formas de construir uma cultura livre voltada para o compartilhamento, a inclusão digital e o benefício comum.
Cabe a tomadores de decisões articular arranjos, recursos, políticas para que não seja apenas um discurso retórico e que o nosso país seja uma potência em termos de fomento à Educação Aberta. Ainda assim, também cabe a cada ser humano desafiar o status quo, ter um olhar sensível às ações para justiça social, incentivar o pensamento crítico, usar a educação para transformar a sociedade, fortalecer habilidades exclusivamente humanas – como empatia e criatividade – para que as tecnologias e práticas sejam usadas para o bem e para o benefício de todos.
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