
Você já deve ter percebido quando sua rede social começa a te mostrar imagens e/ou vídeos sobre um mesmo assunto que, por exemplo, você conversou com amigos; ou páginas de internet que passam a te mostrar produtos ou serviços semelhantes ou iguais aos que você pesquisou à pouco. Por que será que isso acontece?
O algoritmo das plataformas é feito para mostrar informações de acordo com os dados coletados de seus usuários. Por meio de análises, as empresas que se beneficiam do comércio desses dados geram novos produtos e serviços baseado nos hábitos, desejos, comportamentos e informações que os consumidores involuntariamente cedem para plataformas on-line.
A socióloga americana Shoshana Zuboff chamou esse fenômeno de capitalismo de vigilância. Aqui, as empresas coletam dados sobre as ações e identidades e usam para fins diversos, principalmente econômicos, influenciando e modificando comportamentos.
Esses dados são muito valiosos por serem uma forma de conhecimento de um determinado grupo ou população e são monopolizados por um pequeno número de grandes empresas, utilizando-os em estruturas dessa mesma sociedade, como: educação, trânsito, comunicações, sociabilidade, dentre outros, tornando-nos cada vez mais dependentes. O pesquisador Leonardo Cruz comenta sobre a colonização da educação pelas big tech e o modelo de negócio criado por elas.
Um dos produtos criados por essas empresas são os serviços de plataformas educacionais. Essas empresas já vinham ganhando espaço na educação brasileira, com serviços e produtos disponibilizados, como o serviço institucional de e-mail. Com a pandemia de Covid-19, essas empresas ganharam espaço de forma rápida, inserindo no Brasil suas plataformas educacionais diante da necessidade das instituições garantirem a continuidade da educação aos estudantes do país nesse período. Temos, como exemplo, a parceria do MEC com a Google, o Google Workspace for Education Fundamentals, onde são disponibilizadas ferramentas para aprendizagem, colaboração e comunicação; e a Plataforma Escola em Casa DF – Google Classroom, uma parceria do Governo do Distrito Federal com a Google.
Esse rápido avanço, de inclusão dessas plataformas educacionais, trouxe mudanças na relação entre professores e alunos e as demais relações no ambiente escolar. Agora as grandes empresas operaram na datificação das relações em sala de aula e a forma de avaliação dos alunos que poderá ser medida de acordo com o tempo de realização das atividades, por exemplo. As relações pedagógicas agora poderiam ser medidas e seus dados analisados.
Essa conquista de espaço não ficou apenas na educação básica, alcançando também as universidades públicas que viram nos serviços dessas empresas a “solução” para alguns problemas, como o armazenamento de informações e dados de pesquisas e de e-mails institucionais de funcionários, professores e alunos, já que ou não possuíam infraestrutura para tal ou não tinham dinheiro para viabilizar a construção de data centers em seus terrenos.
Por mais que essas empresas digam que os dados coletados estão seguros, como confiar se seus data centers, na maioria das vezes, estão sediados fora do Brasil, como nos Estados Unidos? Os dados ficam armazenados sobre o controle delas, sem muitas vezes termos acesso, assim como teremos garantia da aplicabilidade da legislação brasileira, como a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº 13.709, de 2018)? Ainda mais se considerarmos que essas ferramentas são softwares proprietários, de código fechado, onde os direitos de uso, modificação e distribuição são restritos à própria empresa.
Por mais que as inovações tecnológicas sejam bem-vindas e com muitas possibilidades de armazenagem de dados, formatos educacionais que abrangem lugares distantes, criando oportunidades, precisamos nos preocupar com a capacitação de profissionais de educação, alunos. Temos também que nos preocupar com a criação de políticas públicas para essa aprendizagem, além do meio formal de educação para que os indivíduos aprendam a lidar com as novas ferramentas, as novas formas de interação, de avaliação e pensar em formas razoáveis de segurança de dados armazenados por essas empresas de forma a garantir que eles não serão usados para fins escusos.
Assim, questiono, será que nossas informações estão seguras nas redes? Será que podemos confiar no que dizem essas grandes empresas sobre a segurança dos nossos dados? É difícil acreditar que sim diante de notícias de vazamentos de dados por aí e na impossibilidade de termos acesso fácil a eles por estarem sob custódia de outro país.
Enquanto não houver investimento em infraestrutura e tecnologias próprias para que tenhamos condições de termos nossas próprias plataformas educacionais, sem precisarmos dos softwares fechados das grandes empresas, vamos conviver com essa dúvida e desconfiança sobre o uso dos nossos dados.
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