Publicado originalmente nos anos 90, quando a internet ainda engatinhava para o grande público, este livro é uma verdadeira máquina do tempo que nos ajuda a entender de onde viemos para compreender melhor onde estamos no vasto universo digital.
Lévy, com sua visão quase profética, não via a internet apenas como uma ferramenta, mas como um novo ecossistema cultural. Para ele, a cibercultura é um conjunto de técnicas, práticas, atitudes, modos de pensamento e valores que se desenvolvem junto com o crescimento do ciberespaço. Pense nisso: antes da internet, a informação era centralizada, a comunicação era linear e as interações sociais tinham limitações geográficas e temporais muito maiores. Lévy já sacava que o digital viria para bagunçar tudo isso!

Ele falava de inteligência coletiva, da capacidade da rede de conectar mentes e criar um conhecimento que transcende a soma das partes individuais. Lá atrás, isso parecia algo quase utópico. Hoje? É a base do Wikipédia, das comunidades de código aberto e até mesmo dos movimentos sociais que nascem e se espalham online.
Agora, vamos trazer Lévy para a nossa realidade turbinada por 5G e inteligência artificial.
A internet, que para Lévy era um “ciberespaço” em formação, hoje é o nosso dia a dia. É onde trabalhamos, aprendemos, nos divertimos e nos relacionamos. A promessa de um espaço descentralizado e colaborativo se concretizou em muitos aspectos. Temos acesso a uma quantidade absurda de informação, podemos nos comunicar instantaneamente com qualquer pessoa no planeta e as barreiras geográficas diminuíram drasticamente. Isso é a inteligência coletiva em ação, com milhões de pessoas contribuindo e acessando informações a cada segundo.
As redes sociais são, talvez, a materialização mais evidente da cibercultura de Lévy nos dias atuais. Elas são os verdadeiros ágoras digitais onde a inteligência coletiva e as interações sociais se manifestam. É aqui que vemos a fluidez das identidades, a formação de comunidades de interesse e a disseminação viral de ideias (boas e nem tão boas). Lévy antecipou essa descentralização da comunicação e a capacidade de qualquer um se tornar um “emissor” de conteúdo. No entanto, também é aqui que percebemos os desafios que Lévy talvez não tenha vislumbrado em sua totalidade. Se por um lado temos a colaboração, por outro temos as “bolhas”, onde a inteligência coletiva pode se tornar uma inteligência coletiva enviesada.
E aqui entra o fator que talvez seja a maior transformação desde a época de Lévy: os algoritmos. No livro, a ideia de um “espaço navegável” era mais baseada na exploração humana. Hoje, nossos caminhos na internet são fortemente direcionados por algoritmos. Eles curam nosso feed nas redes sociais, sugerem produtos, definem o que vemos em resultados de busca e até influenciam nossas decisões.
Essa curadoria algorítmica é uma faca de dois gumes. Por um lado, ela nos ajuda a lidar com a sobrecarga de informação, personalizando nossa experiência. Por outro, ela pode limitar nossa exposição a ideias diferentes, reforçar vieses existentes e até manipular opiniões. O que Lévy via como um potencial de democratização do conhecimento, hoje se depara com a questão de quem controla os fluxos de informação e como esses fluxos são moldados.
“Cibercultura” não é apenas um livro sobre o passado. É um guia para o presente e um alerta para o futuro. Ao revisitarmos suas ideias, percebemos que muitos dos dilemas e potências da nossa vida digital já estavam sendo gestados e analisados lá atrás. Lévy nos convida a pensar criticamente sobre o que construímos e como nos relacionamos com esse ambiente digital que nos cerca.
Então, se você quer entender as raízes da nossa cultura digital e refletir sobre os desafios e oportunidades que ela nos apresenta, “Cibercultura” é uma leitura mais do que recomendada. É um convite a olhar para o monitor com outros olhos e questionar para onde estamos indo com tudo isso.
A releitura desse livro, que já estava empoeirado na minha estante, pois fora comprado durante a minha graduação, por volta de 2010, foi um baque pra mim. Como pode um livro ser tão atual, tão contemporâneo, em uma época em que a obsolescência das ideias é tão urgente? A contemporaneidade de princípios e valores é algo que nunca muda e Lévy foi bastante visionário ao imprimir nesta obra as suas concepções de mundo e de virtual. É uma leitura que realmente recomenda para os leitora hoje e, quem sabe, até no futuro.
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.